2004-12-29

O Prisioneiro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer...

2004-12-23

Socrástico

Algo que me deprime: Cinquenta jovens no auge da criatividade enclausurados em uma sala enquanto o professor vomita a aula. Todos preocupado com a prova, qualquer que seja. Será que o culto à ignorancia da sociedade é fruto do nosso mecanismo de ensino alienado ? ou será que é o contrário ?

Me farei de exemplo.
Quando estudei filosofia no colégio, Sócrates foi meramente abordado. Nada além de seu pensamento crítico, afinal, os pensadores "modernos" eram bem mais interessantes.
Vejamos um pouco mais sobre esse cidadão grego:

Ele criticava muito a oligarquia dos espartanos e a democracia pacífica ateniense, pois nenhum deles servia como regimento adequado ao povo. A tensão entre os regimes, entre outros fatores, culminou na derrota dos gregos por Alexandre em 336 a.c. e, depois disso, a conquista romana.

Será que se as críticas de Socrates aos dois regimes tivessem sido houvidas, poderia ter surgido um regime diferente e evitado a vitória de Alexandre ? Como consequencia disso, os romanos provavelmente não construiriam seu império e o despotismo da fé que domina nossa sociedade até hoje. Infelizmente, Sócrates também questionou seus deuses e foi condenado a morte, por corromper os jovens com suas idéias e passou a existir apenas como alvo da comédia de Aristófanes.

O quão atual é essa discussão ? Pra que essa viagem ?

Quando, em Aristófanes, para responder pelos votos da democracia, procura-se um chefe vulgar e de pouca educação, um vendedor de carnes é encontrado. Indagado se save ler e escrever ele responde: "Um Pouco". É o que basta para obter o voto do povo." parece familiar ?

E quanto aos romanos, que baniram diversos livros (os evangelhos apócrifos) da publicação original da bíblia para estabeler a igreja e banir todas outras crenças. Este tema está não só na super-interessante deste mês, mas no Codigo Da Vinci e em todos os caça-níqueis que o seguiram. Em que você acredita ?

A democracia, questionada por se a ditadura da maioria. Ela pode lhe parecer confortável hoje. E se você tivesse nascido negro e optasse pela homossexualidade ? E se fosse anão, careca, soropositivo e deficiente físico ? provavelmente teria uma vida um pouco mais agradável que de uma samabaia, a não ser que fosse palmeirense. Nesse caso a planta sofreria menos. Brincadeiras a parte, homossexuais no Brasil não podem se casar, receber herança e muitas outras restrições que, agora que são uma minoria maior, começam a movimentar a sociedade.

Quanto ao grande Alexandre, ele está reincarnado por Colin Farrell numa megaprodução das telonas, a estrear. De repende, dois milênios e meio depois, o pensamento de Sócrates é atual como o jornal de amanhã.

Quanto mais interesse poderia ser despertado se não fossemos submetidos a injeções isoladas de conhecimento, mas vissemos a historia, geopolítica e artes juntas, com suas trocas e influências ?
Quanta criatividade poderia ser usada para melhorar nossa sociedade ao invés de aliená-la ?

Melhor parar de perguntar. Cicuta me dá gases...

2004-12-19

Vendo tantas atrocidades sociais, é dificil não tentar entender o mundo pervertido em que vivemos. Entretanto, fazemos isso como na fábula dos cegos tentando entender o elefante.

Agarramos uma perna com a maioria dos outros cegos, a convencionamos como verdade e execluimos os loucos que dizem que o elefante é um rabo. Não tenho a pretensão de ver todo o paquiderme, mas luto contra a minha cômoda deficiencia.

Não me sinto culpado pelas crenças, lugares e pessoas que deixei. Apesar de nerd convicto, tenho prazer na sátira que o passado faz de nós, através dos séculos de história repedita. Não me importa se é pelo helenismo, tecnologia ou bridget jones, desque não seja permanente. Afinal, de que adianta o livre-arbítrio que nos diferencia dos outros animais, senão para mudar, descobrir novos sabores e amar novamente ?

2004-12-05

Isso aqui anda muito filosófico. DÁ LHE BRIDGET JONES :

Hearts gone astray
Keeping her when
they go I went away
Just when you needed me so

You won't regret
I'll come back begging you
Don't you forget
Welcome love we once knew

Yeah Open up your eyes
Then you'll realize
Here I stand with my
Everlasting love

Need you by my side
Come and be my pride
You'll never be denied
Everlasting love

From the very start
Open up your heart
Feel the love you've got
Everlasting love

This love will last forever
[U2-Everlasting Love.mp3]

2004-11-30

Voce me ama ?

Apesar da dolorosa curva de aprendizado da álgebra, ela não é a pior parte da equação.
O mais agoniante é que a resposta já está lá, inerte e zombeteira enquanto voce se afunda pelas pautas. Na vida funciona parecido, mas perguntas costumam ser um pouco mais complicadas que o valor de X, tendo suas variáveis substituidas por experiências pessoais, cultura, fé e outros valores igualmente precisos.

A afirmação de que o segredo está em encontrar as perguntas corretas, apesar de não ter a fama da relatividade, é minha linha favorita de Einstein. Essa idéia, longe de ser original, vem desde Lavoisier até os irmãos Wachowski , mostrando ao Neo que todas as suas escolhas estavam tomadas, so lhe cabendo entendê-las.

O perigoso é que, exterminando a coincidência ferimos gravemente a invenção, a criatividade e temos uma percepção um tanto diferente da nossa realidade.
Podemos nos ver apenas como uma mente "Tabula Rasa" seguida por uma cadeia complexa de
acontecimentos, nos transformando em seres tão previsíveis quanto a localização da próxima gota de chuva.

Se nascemos livres de conceitos, o que acredito ser verdade, nossa única fonte de transformação são as experiencias que conseguimos perceber através da combinação dos nossos cinco limitados sentidos.

Exceto por um detalhe.

O que aprendemos ao ver uma tela do Dali, assistir aos filmes do Kubric, andar de montanha russa ou até com estimulos mais primitivos, como sexo ? Existe algo maior nessa experiência que a combinação dos sentidos, algo confeccionado com cuidado exclusivamente para aquele momento em que tocamos nesse sexto sentido, que eu chamo amor.

Origem dos outros sentimentos, para não falar da própria existência, nosso amor é lapidado ao longo de tantas experiências únicas que fica muito mais dificil entender o que sentimos de verdade do que responder prontamente à nossa questão tema.

É.... quem ama, sempre mente.

2004-09-03

5 coisas a NUNCA mais esquecer quando viajar a trabalho:

- 10 CDs
- Entretenimento pornográfico
- Um bom livro não técnico
- Ferro de passar
- Roupas de sair

...

2004-07-12

Vassalos

Meu problema com o cristianismo não é, de forma alguma, religioso.
Poucas coisas me preocupam menos que a existência de entidades sobrenaturais, regentes da vida na terra. Não duvido da existencia de Deus, Cristo ou qualquer outro elemento da doutrina, mas acredito que a verdade está além da minha limitada visão. Pode ser um bom anestésico para a consciência aflita com a finitude de nossa existência ou problemas cotidianos. Mas são outros grilhões da igreja que me ferem.

As restrições à liberdade impregnadas em nossas cabeças atráves dos séculos como um sútil condicionamento é, entre todas as formas de escravidão, a mais vil. Tomemos como base o mais natural dos instintos, o sexo.
Falar em sexo é incomodante. Apenas o som de palavas como "sémen", "buceta" ou "pinto" são capazer de criar expressões de desaprovação ou nojo. E são coisas mais naturais que as brandidas em sultuosos edifícios nas sessões de pregação.

Estamos todos pelados. Tire a roupa se duvidar. A repugnação do obsceno mostra seu cúmulo ao levar um artista à justiça por mostrar as nádegas a um público restrito e mal educado, enquanto outros fazem isso públicamente em rede nacional. Não que eu ache que devemos ser peladões ou defenda o naturismo civil. O que me incomoda são os absurdos.

Pense que vivemos numa sociedade em que uma pessoa que ame outra de mesmo sexo, está subitamente privada de direitos garantidos até a criminosos, como herdar de seus parentes falecidos ou ter dependentes. Doenças sexualmente transmissíveis se propagam assustadoramente e ainda se questiona a corretude do uso de preservativos e pílulas anticoncepcionais.

Não acredito que a culpa de todos os males da sociedade seja da Igreja. Ela sempre teve fortes aliados no estrangulamento da liberdade, como o governo e a economia. Mas sem dúvida é uma fonte ativa e forte de restrições. Vejo a repressão mental a qual somos subjulgados como algo tão abominável e absurdo como as repressões físicas, tal qual o nazismo ou inquisição.

E isso não é um problema de minorias como judeus, homossexuais ou bruxas. É um problema constante, perverso, sutíl e global.

Isso inclui você.

2004-07-04

Carta de Bakunin à seu irmão Pavel

Eu amo, Pavel, eu amo imensamente; eu não sei se posso ser amado como gostaria de sê-lo, mas não desespero; eu sei pelo menos que se tem muita simpatia por mim; eu devo e quero merecer o amor daquela que amo, amando-a religiosamente, quer dizer, ativamente; - ela está submetida à mais terrível e à mais infame escravidão; - e devo libertá-la combatendo seus opressores e acendendo em seu coração o sentimento de sua própria dignidade, suscitando nela o amor e a necessidade da liberdade, os instintos da revolta e da independência, lembrando a ela o sentimento de sua força e de seus direitos.

Amar é querer a liberdade, a completa independência do outro, o primeiro ato do verdadeiro amor, é a emancipação completa do objeto que se ama; não se pode verdadeiramente amar senão a um ser perfeitamente livre, independente não somente de todos os outros, mas mesmo e sobretudo daquele pelo qual é amado e que ele próprio ama. Eis minha profissão de fé política, social e religiosa, eis o sentido Intimo, não somente de minhas ações e de minhas tendências políticas, mas também, tanto quanto eu possa, o de minha existência particular e individual, pois o tempo em que estes dois tipos de ação podiam ser separados já está bem longe de nós; agora o homem quer a liberdade em todas as acepções e aplicações desta palavra, ou então ele não a quer absolutamente.

Querer, amando, a dependência daquele a quem se ama, é amar uma coisa e não um ser humano, pois este só se distingue da coisa pela liberdade; e também se o amor implicasse a dependência, ele seria a coisa mais perigosa e a mais infame do mundo porque criaria uma fonte inesgotável de escravidão e de degradação para a humanidade. Tudo que emancipa os homens, tudo que, fazendo-os entrar neles mesmos, suscita o princípio de suas próprias vidas, de uma atividade original e realmente independente, tudo que lhes dá a força de serem eles próprios, - é verdadeiro; todo o resto é falso, liberticida, absurdo.

Emancipar o homem, eis a única influência legítima e benfeitora. Abaixo todos os dogmas religiosos e filosóficos, eles nada mais são do que mentiras; a verdade não é uma teoria, mas um fato; a vida é a comunidade de homens livres e independentes - é a santa unidade do amor brotando das profundezas misteriosas e infinitas da liberdade individual. Por favor, não se esqueçam de mim e, se for possível, escrevam-me, mas sendo prudentes e evitando também vos comprometer pelo que quer que seja, escrevam-me pelo menos uma palavra a fim de que eu possa estar seguro de que estais ainda vivos. Meus pobres, vós não podeis saber quão freqüente meu coração se aperta em relação a vós e por vós; nossos pais desperdiçaram toda vossa vida; eles vos mataram.

O que é feito de meu pai? Eu lamento por ele: ele também era capaz de uma outra existência. Ele ainda está vivo? Eu lhe escreverei em breve uma última carta de adeus, sem o menor objetivo prático ou interessado, mas simplesmente para me despedir dele e lhe dizer algumas palavras de afeição e de adeus. Quanto à minha mãe, eu a amaldiçôo; para ela, em minha alma, não há lugar para outros sentimentos além do ódio e do mais profundo e radical desprezo, não por minha causa, mas pela vossa, a quem ela causou muitos males. Não me trateis por cruel; é tempo de que nós nos libertemos de um sentimentalismo impotente e irreal; é tempo de sermos homens, homens tão fortes e tão constantes no ódio quanto no amor. Sem perdão, mas guerra implacável a meus inimigos, pois esses são os inimigos de tudo o que há de humano em nós, os inimigos de nossa dignidade, de nossa liberdade.

Nós por muito tempo amamos, Queremos finalmente odiar.

Sim, a capacidade de odiar é inseparável da capacidade de amar.

2004-05-16

Caso de Familia 2

Meu amigo, nunca fui muito certo. Eu era pivete, mas fazia maior pinta de bacana.
No morro me chamavam de Teta, por causa deste terceiro mamilo.

Ela não. Ela era minha princesa. Morava em Ipanema, pertinho da praia onde a gente se conheceu. Quase quinze aninhos, um corpo dourado espetacular. Coisa de cinema. Família tradicional da burguesia carioca que não podia nem imaginá-la com alguém do morro, ainda mais de cor.

Uma tarde ganhei na loteria. Aniversário dela, casa vazia, o mundo era nosso. Mal passei pelo muro e já começamos ali mesmo. A pequena tinha um apetite de matar, muito maior que daquelas piranhas do baile.

Já anoitecia e a gente tava transando na sala, sem respeito pelo sofá caro ou por nenhum outro item da decoração. Assustados com um ruído decidimos continuar no porão, onde tinha a lavanderia. Mas nem assim paramos. Fiz aquela pose de fortão, levantei-a pela bunda e, com ela me abraçando com as pernas, fomos descendo a escada.

Mal acendi a luz e já ouvi a salva de “PARABÉNS”. Tava todo mundo lá. Ela sumiu instantaneamente e eu fiquei paralisado pela cena tão bizarra. Pelado, de pau duro, na frente de um monte de pinguin. Nem tentei reagir.

Hoje eu como essa gororoba da cadeia. Mas já comi muito melhor...

2004-05-10

Caso de familia

Faz tempo que os seios perderam seu nobre aspecto maternal. A medicina e a moda buscam desesperadamente recursos para que as mulheres possam ostentar belas mamas como armas poderosas de sedução, ostentação ou mesmo como símbolo de status. O fato é que eu adoro peitos.

Era apenas uma preferência sexual, mas logo se tornou uma exigência e, com o passar dos anos, uma obsessão. Pouco a pouco percebi que meu amor pelas mulheres na verdade se reduzia a essa insistente busca por belos seios e talvez essa seria a causa tantos relacionamentos interrompidos ou infrutíferos.

Uma enorme coleção de fotos, vídeos, modelos em silicone e outros artefatos igualmente peculiares se amontoavam em meu pequeno quarto. Meu apetite insaciável aumentava em proporções desastrosas. Buscava naquele órgão o prazer da fome saciada, que a psicologia me explicava com o complexo de édipo ou outras perversões similares.

Já me sentia no fundo do poço quando encontrei minha solução. Foram muitos turnos dobrados e sacrifícios de fome para comprar meu próprio par de seios. As madrugadas de estudos minunciosos me mantinham saciado, em busca do implante perfeito que hoje trago em meu tronco.

Não sou homossexual. Nem "travesti", como eh cuspido pejorativamente pelos transeuntes desta avenida. Gosto muito de mim e, se não fosse a intolerância social, ainda teria meu antigo trabalho ao invés deste. Acabei aprendendo a gostar...