2008-04-06

Metáfora

Ela não era uma criança comum. Era como se lhe faltasse o aparelho de chorar ou sorir. Não era aquela distância apática ou autista, mas como se tudo fosse irrelevante. Como se planasse além da superficialidade infantil, aguardando entediadamente o ônibus da adolesência.
E logo ele veio, mas estava vazio. Não encontrou nem as decepções para que tanto se preparou. A perda de familiares foi natural, como realmente é. Os garotos, meras marionetes de seu corpo. A primeira traição, um incômodo passageiro, como um café derramado ao colo.
Decidiu terminar a vida como quem rejeita uma refeição ao provar. Não importa se o prato estava cheio, não era o que ela queria.

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