2008-04-10

Superlativo

Ele não vivia como os outros. Vivia muitíssimo, e o mais rapidamente que conseguia. Problema era por pra fora.
Sempre bêbado de emoções, mas com sua uretra de conta gotas. Era péssimo em escrever, tocar, pintar ou sequer falar de tudo que sentia.
Doía como a mais aguda prisão de ventre. Mas o vício era toda vez o mais forte e, como o alcóolatra recaído, voltava a viajar, a conhecer, a amar.
Ela lhe fez ultrapassar seu máximo. Explodiu como o mais tântrico orgasmo, ali na cama mesmo.
Não pode ter o caixâo aberto, pois seus pedaços ainda estão no mundo.

Da série: Metafora, Terceira Pessoa

2008-04-09

Josivaldo, o medíocre.

Levianamente surupiado de: http://girlinterrupted00.blog.terra.com.br/marina_a_sadomasoquista



Josivaldo não era nem da turma do fundão, nem dos caxias. Se sentia tão mediano quanto realmente era, excluído das brincadeiras e das agressões. Passou ileso. Não queria as uvas da adolescência, mas bem que podiam ter lhe oferecido.

Não ficou rico nem devia, contentava-se com o melhor emprego que conseguiu. Era suficiente para comer, beber e algum sexo barato que encontrava aqui e alí. Era feliz por não ser triste, até que conheceu Marina.

Era como ser um índio, maravilhado pela cartequese do amor de Marina. Agonizava em cada parafuso, esperando pelo brilho dos olhos de Marina. Perdi-se no chiado dos aparelhos. No fundo, ouvia os gemidos miados dela pedindo a próxima sacanagem. Foi assim por muito tempo.

Mas sentiu falta de sí mesmo. Quando voltou ao bar, se embriagou novamente ao bater do bilhar, imerso em perfume barato e aguardente. Seu lugar não era nas indulgências sexuais de Marina, mas ali, naquele antro. Podia não ter raros momentos de êxtase, mas também não sofria da ansiedade de esperar. Resolveu ficar.
O império contra-ataca


Antes, leia:

http://girlinterrupted00.blog.terra.com.br/almodovarianas


E vamos pular a parte do "homens são vermes malditos", etc... reclamar não vai deixá-los melhores, mas você pode ser diferente. Sim, minha amiga, a culpa também é sua. Mas como fazer diferente, num momento tão dificil? Me permita esclarecer alguns pontos...

1- Retome o elemento surpresa. Afinal, você já sabia, não é mesmo? Choro, fúria e decepção são esperados e tem um contorno meticulosamente planejado. Mas nem os mais cafajestes estão prontos para ouvir: "Tudo bem, você é um palhaço mesmo...."

2- Não chore. Ele vai no mínimo tentar te abraçar e a não ser que queira apunhalar o infeliz, esta não é a posição ideal agora.

3- Ele vai tentar fazer você se sentir bem e se eximir da culpa. Não deixe. Mas não se fazendo de vítima, como "depois de tudo que eu dei....", mas com a merecida agressividade, no melhor estilo "Devolve o disco do pixinguinha, você não merece a primeira nota."

Isso deixa o cenário armado para o mais importante, a semana seguinte. Falaremos dela depois.
Será que eu consigo um trampo na Capricho?

2008-04-06

Metáfora

Ela não era uma criança comum. Era como se lhe faltasse o aparelho de chorar ou sorir. Não era aquela distância apática ou autista, mas como se tudo fosse irrelevante. Como se planasse além da superficialidade infantil, aguardando entediadamente o ônibus da adolesência.
E logo ele veio, mas estava vazio. Não encontrou nem as decepções para que tanto se preparou. A perda de familiares foi natural, como realmente é. Os garotos, meras marionetes de seu corpo. A primeira traição, um incômodo passageiro, como um café derramado ao colo.
Decidiu terminar a vida como quem rejeita uma refeição ao provar. Não importa se o prato estava cheio, não era o que ela queria.